Capítulo Três
O Testemunho de Jesus e a Presente Era

"Todo aquele que é da Verdade

ouve a minha voz."

– João 18:37

João, o apóstolo, escreveu no Apocalipse: "Eu, João, que também sou vosso irmão e companheiro na aflição, e no Reino, e paciência de Jesus Cristo, estava na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e pelo Testemunho de Jesus Cristo." – 1:9.

O mundo greco-romano, no qual viveram os primeiros crentes em Jesus de Nazaré, era todo um ambiente de trevas. Os desafios em sustentar a Fé eram muitos. De fato, em meio às perseguições movidas pelos incréus, diversas eram as aflições dos que professavam o Testemunho de Deus. Por qual razão? Em que o testemunho divino desagradava aos alheios à Fé?

A presente era

O século em que viveram os apóstolos era por demais hostil ao Evangelho. Quando consideramos o Livro de Atos, percebemos o quanto o Testemunho de Jesus sofreu oposição. De modo que houve aqueles que "expuseram as suas vidas pelo Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo", diz-nos o registro histórico. – Atos 15:26.

Mas nem todos os que se decidiram por Jesus O seguiram com exclusividade. Lemos, por exemplo, de um certo Demas que, "amando o presente século", abandonou o apóstolo Paulo. [2 Timóteo 4:10] Sim, houve aqueles que se tornaram claudicantes na caminhada. Alguns preferiram a comodidade do sistema humano à firme determinação de anunciar o Reino. De modo que era sempre necessário atentar à exortação apostólica: "Vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como sábios, remindo o tempo, porquanto os dias são maus." – Efésios 5:15, 16.

Um sistema de oposição

Muitas foram as recomendações para que os do Reino fossem perseverantes. Mas por que deveriam eles desanimar, visto que tinham por Deus e Rei Aquele que disse: "Eu venci o mundo"? – João 16:63.

Por ser o mundo algo a ser vencido, os seguidores de Jesus receberam por diretriz tais palavras: "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." – 1 João 2:15.

Que é ‘o mundo’ a que devemos não amar? O mundo é uma ordem, um sistema arranjado pelo inimigo de Deus. [Efésios 2:2 Cf. 1 João 5:19] Satanás, que significa ‘opositor’, sistematizou o universo, e tal sistema é designado "o império das trevas", que abrange não somente a Terra mas também os ares. – Cf. Efésios 2:12; 6:12; Colossenses 1:13.

A Bíblia ensina que o ser humano é o centro do plano divino para com o universo. [Zacarias 12:1] Sim, Deus tem um plano para com a humanidade. [Efésios 1:17-23; 3:3-11] No entanto, há ‘um governo’ que está em oposição aos desígnios de Deus. De que forma tal sistema oponente se manifesta?

O império das trevas está relacionado estritamente com toda a humanidade, se evidenciando sobretudo no comércio, na política e na religião.1 Estes três elementos são produtos da rebeldia e arrogância humana, vinculados diretamente a Satanás, a antiga serpente. [Gênesis 3:1] Ora, de acordo com o Livro da Revelação, o alto comércio, a política e a religião perfazem o sistema opressor das testemunhas de Jesus. [Apocalipse 17 e 18] Estes três itens perfazem o sistema de oposição a Deus. Tal foi o sistema que se opôs ao Senhor e aos Seus enviados. – João 15:18, 19.

1 Adiante, em extensão, consideraremos mais de perto o elo entre a política, a economia e a religião.

 

‘E vos acontecerá isto para testemunho’

Certa vez, ao discursar sobre o Reino, Jesus disse: "Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós." – Mateus 5:11, 12.

Não somente a política moveu perseguição ao Testemunho de Deus. A religião também se opôs tenazmente. Na verdade, a religião foi a propulsora de todas as perseguições movidas contra os discípulos do Senhor. Temos alguns apontamentos? Sim. Por exemplo, no Livro de Atos, lemos que, em certa província, "os judeus incitaram algumas mulheres religiosas e honestas, e os principais da cidade, e levantaram perseguição contra Paulo e Barnabé, e os lançaram fora dos seus termos." [13:50] E, em outro episódio, companheiros de Paulo foram presos por comerciantes religiosos. [19:23-29] Ademais, mostrando a sua vil subtileza, os da religião procuraram se valer de um certo orador chamado Tértulo, acusando com difamações o apóstolo Paulo perante Félix, uma autoridade política. – 24:1-9.

Por qual motivo os religiosos se opunham aos apóstolos e discípulos? O Mestre expôs o motivo: "Lançarão mão de vós e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e às prisões e conduzindo-vos à presença de reis e presidentes, por amor do Meu Nome. E vos acontecerá isto para testemunho. ... E de todos sereis odiados por causa do Meu Nome." [Lucas 21:12, 13, 17] Dessarte, líderes religiosos proibiram aos apóstolos de falar no Nome de Jesus! – Atos 5:28.

Mas porventura o sofrer oposição e afrontas era cousa inesperada ou estranha aos fiéis do Mestre? Não, por certo. Pois, não tinham eles sido de antemão avisados? "E odiados de todos sereis por causa do Meu nome" , predissera o Senhor. – Mateus 10:22a; 24:9.

Em verdade, a oposição às fiéis testemunhas contribuía ainda mais para que o Nome fosse manifestado!1 Sim, "vos acontecerá isto para testemunho." Com efeito, é no Livro de Atos que também encontramos o registro do primeiro mártir do Nome! [Atos 6:8 – 7] E quão expressivo foi o testificar de Estevão acerca do Nome! – Note vv. 59, 60.

De fato, o martírio do fiel Estevão e subseqüentes perseguições aos demais seguidores do Senhor, vieram a confirmar as expressivas palavras: "Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus." – João 16:2.

Características de uma era

Qual foi a era em que viveram os apóstolos do Senhor? Que quadro a história nos mostra? Quando lemos as páginas da Antigüidade podemos ver duas características básicas do Império Romano: a opressão social e a espiritual. A Bíblia nos informa acerca da "grande cidade", o reduto comercial daqueles que mercadejam corpos e almas humanas. – Note Apocalipse 18:11, 12.

O historiador e médico Lucas anotou que certa vez o espírito de Paulo se agitou sobremaneira. Por quê? O espírito do apóstolo se comoveu por Atenas, uma cidade grega, ao vê-la "tão entregue à idolatria". [Atos 17:16] E, em uma de suas cartas, Paulo fez referência aos "muitos deuses e muitos senhores" que povoavam o ambiente greco-romano. [1 Coríntios 8:5] Com efeito, Petrônio, um escritor contemporâneo dos apóstolos, observou: "É mais fácil achar um deus do que um homem."2 Tal afirmação por certo não foi gratuita. Por quê?

Na esfera da religião, a política romana se esforçava por facilitar o afluxo e sincretismo de diversas idéias e práticas e costumes aos seus súditos. Em verdade, tal diligência fazia parte da estratégia do Império. Como bem aponta Benjamin Scott em seu livro As Catacumbas de Roma: "Com as suas armas, Roma [Imperial] levava seus deuses a outras nações e promovia-lhes cultos. Por conveniência política, Roma adotava deuses de outras nações pagãs, admitindo-os no seu Panteão."3

1 No Nome Jesus se encerra o Testemunho de Deus! [Veja o subtópico Jesus, o Nome, no capítulo anterior.] Logo, o não declarar do Nome do Senhor é negar o testemunho divino. Em Atos 5:28, vemos como, desde cedo, o sutil serpentino, através de seus agentes – os líderes religiosos –, fez tentativa de tornar não público o Testemunho de Deus. Que guardemos conosco a seriedade e evidência desta nota!

2 In: As Catacumbas de Roma, de Benjamin Scott, trad. de José Luiz Fernandes Braga Júnior, Rio de Janeiro, Ed. CPAD, 1986, p. 14.

Ib., loc. cit.

3Acerca da cultura greco-romana, J. N. D. Kelly, nos conta mais: "Ísis, Serápis e Cibele eram as divindades mais populares, conquistando multidões de devotos e templos erguidos em honra com dinheiro público; enquanto isso, entre os soldados, o deus persa Mitras... era imensamente benquisto. O sincretismo era o produto desse acúmulo de religiões; os deuses de um país eram identificados com os do outro, e havia um movimento indiscriminado de fusão de várias seitas e do empréstimo de idéias entre elas."1

No império greco-romano todos os afluentes pagãos tinham livre curso. A idolatria grassava em todas as camadas sociais. Havia até os kaisarianos, ‘os adoradores do César’! Sim, os imperadores eram venerados como deuses, e a eles muitos concorriam em prestar reverência e adoração. Este tratamento era até mesmo dispensado a representantes da alta hierarquia imperial! – Atos 12:21-23.

Os séculos de Roma Imperial. Tal foi a era em que viveram os apóstolos do Senhor. Mas que mensagem tinham eles a anunciar? Que posicionamento tomaram pelo Senhor?

O Testemunho de Deus é declarado

"Sabemos que... não há outro Deus, senão um só. Porque ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores), todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós por Ele", expressou o apóstolo Paulo. – 1 Coríntios 8:4b-6.

Um só Deus e um só Senhor. Deveras, diante de um mundo ostentador de "muitos deuses e muitos senhores", a mensagem apostólica insurgiu-se como grande contraste! Por isso, notificou-se:

"Milita a boa milita da Fé,

toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado,

tendo já feito Boa Confissão diante de muitas testemunhas.

Mando-te diante de Deus, que todas as coisas vivifica,

e de Cristo Jesus, que diante de Pôncio Pilatos deu o Testemunho de Boa Confissão,

que guardes este mandamento sem mácula e repreensão,

até a aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo; a qual a seu tempo mostrará

o Bem-aventurado, e Único Poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores,

Aquele que tem, Ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível, a

quem nenhum dos homens viu nem pode ver;

ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém."

– 1 Timóteo 6:12-16

Quão boa confissão!

Quais bons soldados de Cristo Jesus há algo pelo que devemos combater. O apóstolo indica que tal combate está estritamente relacionado ao ‘Testemunho de Boa Confissão’. Paulo afirmou que o próprio Jesus deu ‘o Testemunho de Boa Confissão’. Em que consistiu o testemunho dado por Jesus?

Consideremos o que se encontra na narrativa de Lucas: "Pilatos perguntou-lhe, dizendo: ‘Tu és o Rei dos judeus?’ E Jesus, respondendo, disse-lhe: ‘Sim, Eu sou.’" [Lucas 23:3, Literal] Também temos o relato de João, o apóstolo: "O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue a judeus; mas agora o meu reino não é daqui." – João 18:36.

Que seria então a ‘Boa Confissão’? Refere-se ao próprio Jesus Cristo, o Rei. Ele mesmo declarou:

"Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo,

a fim de dar testemunho da Verdade.

Todo aquele que é da Verdade ouve a Minha voz."

– João 18:37. Cf. João 14:6.

1 Doutrinas Centrais da Fé Cristã: Origem e Desenvolvimento, trad. de Márcio Loureiro Redondo, São Paulo, Ed. Vida Nova, 1993, p. 9.

 

O Único Bem-aventurado

O Testemunho de Jesus Cristo. Jesus confessou ser o Rei e a Verdade. Tens atentado a tal testemunho?

O apóstolo Paulo, versado nas Sagradas Letras, fez entender que é na aparição de Cristo, em glória, que será evidenciado quem é "o Bem-aventurado, e Único Poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores". Cf. Judas 4; Apocalipse 17:14.

Aqui podemos compreender a devida razão do Paulo ter ordenado: "Que guardes este mandamento sem mácula e repreensão". A que se referiu? O apóstolo fez referência à compreensão que é devida Àquele que há de vir: "...até a aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo". Como escrito está:

"Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até os mesmos que o traspassaram;

e todas as tribos da terra se lamentarão sobre Ele. Sim. Amém."

– Apocalipse 1:7

Em Seu presto retorno, Jesus se dará a mostrar que Ele é o Único Poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores: "Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, diz o Senhor, que é, e que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso." – Apocalipse 1:8.

Sim, todos saberão que Jesus Cristo é a manifestação de "Aquele que tem, Ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível, a quem nenhum dos homens viu nem pode ver; ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém." – Note Deuteronômio 32:39. Cf. Apocalipse 1:17, 18.

‘Minhas testemunhas’

O exercitar da fé em Jesus como único Deus e Senhor era mesmo um grande contraste em um mundo que detinha crença em ‘muitos deuses e muitos senhores’! Por conseguinte, quão ousados deveriam ser os primitivos crentes no Senhor!

O Cristo ressurreto disse aos Seus: "Ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da Terra." [Atos 1:8b] Quão pujante fora a ‘boa batalha da Fé’ empreendida pelas fiéis testemunhas do Nome! – Note Apocalipse 2:3, 13.

Na era de Roma, destemidos crentes no único Detentor de imortalidade deram significativas mostras em fazer a Boa Confissão. Sim, deveras. Pois, não muito tempo depois da descida do Senhor como Espírito de poder, no dia de Pentecostes, o testemunho divino fez-se notório "em toda a criação debaixo do céu", nos relata o apóstolo Paulo. – Colossenses 1:23. Cf. 1 Coríntios 2:1.

É no Livro de Atos que encontramos registros por demais vigorosos das primevas testemunhas de Jesus. Realmente, o anúncio da fé em um único Deus e Senhor não se deteve frente ao sistema de oposição. Que alcance teve o empenho dos adoradores de Jesus, o Cristo? Em um mundo corrompido pela idolatria e pelas muitas superstições, de fiéis testemunhas declarou-se: "Estes que têm alvoroçado o mundo chegaram também aqui!" – Atos 17:6. Cf. Atos 28:22.32

Netanias Alves de Lima